Por mais que o número de novos alunos no ensino superior do Brasil esteja aumentando, com crescimento de 5,8% entre 2013 e 2019, a taxa dos estudantes que se formam ainda está longe de ser a ideal.
De acordo com dados divulgados hoje pelo Instituto Semesp, na 11ª edição do Mapa do Ensino Superior no Brasil, apenas 18,1% dos jovens de 18 a 24 anos estão matriculados no ensino superior e somente 17,4% das pessoas de 25 anos ou mais concluíram um curso.
Os índices ainda estão bem abaixo das metas do Plano Nacional de Educação (PNE). Para ingressantes, por exemplo, o PNE quer que 33% estejam estudando nos próximos 3 anos, um índice que já seria difícil em um cenário normal, mas está ainda mais complicado num contexto de pandemia, segundo a CNN Brasil.
Os alunos que recorrem à rede privada acabam abandonando o curso, principalmente, por problemas de falta de pagamento. É importante ressaltar que, segundo o estudo do Semesp, 78,5% das matrículas no Brasil estão concentradas no ensino superior privado, ou seja, alunos que não têm renda familiar alta precisam pagar mensalidades que, na maioria dos casos, não “cabem no bolso”.
Evasão
Em 2019, o número de estudantes fora da universidade no ensino presencial era de 30%. Em 2020, esse número subiu para 35,9%. No ensino à distância, a taxa subiu de 35%, em 2019, para 40%, em 2020.
Rodrigo Capelato, diretor-executivo do Semesp, afirma que “a evasão no ensino superior é historicamente elevada e tem sido mais alta no EAD, uma modalidade que depende de uma disciplina muito maior por parte do aluno”.
“Porém, o principal problema envolve uma junção de financeiro e vocacional. Na hora de escolher o curso, o candidato escolhe o que ‘cabe no bolso’, sem a vocação. Pela diferença de valores, ele escolhe Pedagogia no lugar, por exemplo, de Direito. Quando o curso começa, ele desanima, tem dificuldades para pagar a mensalidade e desiste.”, afirma Capelato, diretor-executivo do Instituto Semesp
Apesar de ficar evidenciado o aumento da modalidade EAD em relação à presencial no Ensino Superior, a diferença é grande. Segundo o Mapa do Ensino Superior, 71,5% dos alunos matriculados ainda estão nos cursos presenciais. Em 2018, esse percentual era de 75,7%.
“O EAD vem crescendo muito, pois, também, atinge um público de 30 a 44 anos que está no mercado de trabalho e quer crescer profissionalmente. São cursos mais baratos, mais rápidos e que se encaixam nos horários de quem trabalha o dia todo”, afirma Capelato.
Segundo o Mapa do Ensino Superior do Brasil, a remuneração de quem tem ensino superior completo é quase três vezes maior se comparada a quem tem apenas o ensino médio.
A maioria dos alunos com situação financeira mais vulnerável, que não teve oportunidade de uma educação de alta qualidade, não consegue concorrer nas principais instituições públicas e, ao mesmo tempo, não consegue ter renda para pagar as mensalidades das privadas. Quando consegue, acaba optando por fazer um curso de valor mais baixo, mesmo sem a vocação.
“Para resolver essa realidade e dar o direito a todos os jovens de realizar o sonho de ter uma profissão com formação em nível superior e, consequentemente, um salário melhor, o Governo precisa fortalecer as políticas de acesso ao ensino superior, com financiamento estudantil em larga escala, fomentado pelo governo e não pela iniciativa privada”, argumenta Capelato.
Para o diretor-executivo do Semesp, como o Brasil tem dimensões continentais e não tem condições de dar estudo gratuito a todos os estudantes, a única saída são os modelos de auxílio: “Na Austrália, é aplicado um modelo que se faz justiça social na hora do pagamento. Conforme a renda do estudante depois de formado, o Governo desconta um percentual. Quem tiver renda baixa ou estiver desempregado, não recebe desconto enquanto não tiver renda mínima para pagar.”