*Alice Almeida – Redação Dia a Dia Notícia
Após um ano da primeira onda de mortes e internações por Covid-19 no Amazonas, autoridades sanitárias temem pelo retrocesso à fase vermelha e nova alta no número de pacientes. Para a dra. Adele Benzaken, candidata eleita para a direção do Instituto Leônidas & Maria Deane (ILMD/Fiocruz Amazônia), o cumprimento das medidas preventivas, a celeridade da vacinação e a conscientização da população são essenciais para se evitar uma terceira onda do vírus no Estado.
“Como nós estamos num processo de aumento dos casos notificados de Covid, é muito importante que a população não se aglomere, mas esse não se aglomerar, muitas vezes é impossível. Sabemos, por exemplo, que os transportes coletivos continuam sendo superlotados e, portanto, para que as pessoas se desloquem, elas naturalmente se aglomeram dentro do transporte público”, aponta Adele.
A doutora, que assumirá a posse da nova diretoria da Fiocruz Amazônia, ressalta que frequentar ambientes fechados e não usar a máscara potencializam as chances de contaminação. Para evitar a transmissão do vírus, as principais recomendações continuam sendo as mesmas divulgadas pela Organização Mundial da Saúde desde o início da pandemia: não aglomerar em ambientes fechados, lavar as mãos ou passar álcool em gel, e sempre utilizar máscara.
“A população deveria realmente evitar festas, bares, cinemas, qualquer local fechado com mais de três a cinco pessoas. Hoje os estudos têm mostrado que praticamente a transmissibilidade ao ar livre ela é muito menor, então ao usar máscara em qualquer local ao ar livre, mesmo que seja em feiras, dificilmente as pessoas vão se infectar dessa forma, mas o problema é que as pessoas também não usam máscara”.
Na última sexta-feira (20), a Fundação em Vigilância em Saúde do Amazonas (FVS) emitiu alerta sobre um possível retrocesso para a fase vermelha, o que pode levar novamente ao fechamento do comércio, conforme o Plano de Contingência Estadual contra a Covid-19. Análises epidemiológicas do órgão apontam que o Amazonas permanece na fase laranja, mas o que preocupa é a estabilidade dos casos, que pode refletir em uma tendência de crescimento nas próximas semanas.
Em maio do ano passado, o Amazonas enfrentou a primeira onda da Covid-19, quando 1,2 mil casos da doença foram registrados por dia no Estado, totalizando 36.123 notificações no mês. Após as festas de fim de ano, a população sofreu a segunda onda, quase duas vezes pior do que a primeira com cerca de 2,1 mil casos por dia, e agora, após as comemorações de Dia das Mães, há chances de estarmos caminhando para a terceira onda.
“Aparentemente alguns pesquisadores correlacionam as ondas de acordo com as festividades. Então nós vemos uma segunda onda do Natal e o Ano-Novo e agora está se falando muito do Dia das Mães e de ter uma terceira onda”, comenta a doutora. Para ela, esta classificação de picos não é possível para o cenário nacional, pela ausência de uma curva descendente de casos significativa.
“Hoje, apesar da curva estar ligeiramente descendente, ela nem se chega ainda aos patamares da primeira onda. Então, é muito complicado falar em ondas no Brasil quando a gente sabe que não se sai, se quer da primeira se sai da segunda onda porque está se mantendo um platô extremamente elevado principalmente de óbito no país”, analisa.
Aceleração da vacina
No Amazonas, em quatro meses de campanha de vacinação, cerca de 10,37% da população está imunizada com as duas doses da vacina, e 17,78% recebeu uma dose, de acordo com o consórcio de veículos de imprensa a partir de dados das secretarias estaduais de Saúde. Os números representam 37,5% da meta alcançada para a segunda dose e 64,3% da meta para a primeira dose.
“A vacina é a única forma de se ter controle de uma pandemia. Não existe nenhum outro tipo de controle que possa terminar com uma pandemia e, portanto, a vacinação, ela deve ser acelerada”, pontua. Na avaliação da dra. Benzaken, é preciso acelerar o ritmo da vacinação, para que então se possa sentir os efeitos da imunização contra a doença na sociedade, refletindo em redução de casos.
“Isso já pode ser comprovado com alguns números, onde se observa que, no Brasil, já houve uma queda da mortalidade por Covid em pessoas acima de oitenta anos, como também uma redução de casos entre os enfermeiros e técnicos de enfermagem, quando se compara antes da vacinação e após a vacinação. Isso demonstra a eficácia da vacina protegendo a população contra as formas graves da infecção”, completa.
A médica sanitarista, que já foi diretora do Departamento de Vigilância, Prevenção e Controle das Infecções Sexualmente Transmissíveis, do HIV/Aids e das Hepatites Virais, do Ministério da Saúde, analisa que também é preciso investir em campanhas de educação para a população, acerca dos perigos representados em cada fase da pandemia.
“Eu acho que falta também informação e uma educação de uma forma mais sistemática com relação aos riscos que a população corre quando ela transgride as regras que são, por exemplo, numa fase vermelha, onde estariam fechados bares, restaurantes, e a população acaba fazendo festas clandestinas. Então isso, na minha opinião, seria uma falta total de um processo educativo, um processo de informação da população sobre os riscos que ela está correndo quando promove esse tipo de aglomeração”, diz.