O programa Ambiente É o Meio desta semana conversa com Camila Xerém Ribas, bióloga especializada em biogeografia da Amazônia e pesquisadora do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), sobre as mudanças que estão ocorrendo, do ponto de vista ambiental, na Amazônia.
Segundo a pesquisadora, o que está acontecendo na Amazônia é extremamente preocupante, já que o desmatamento, controlado por esforços de muitos anos, “de repente acelerou de novo de uma forma muito preocupante. E a gente está lidando com um sistema que a gente não conhece bem”.
Como esforço para desvendar a floresta amazônica, Camila cita o projeto Dinâmica Biológica de Fragmentos Florestais (PDBFF), parceria do Inpa e do Smithsonian Institution, que desde 1979 é referência em estudos de fragmentação florestal. Mas, adianta a pesquisadora, iniciativas de longo prazo, como a do projeto, são raras, principalmente na Amazônia, devido às dificuldades de mobilidade e à falta de pesquisadores baseados na região. Para Camila, são necessárias “muito mais pesquisas na Amazônia para começar a entender o sistema, as suas vulnerabilidades e o quanto ele é resiliente”.
O objetivo desse projeto do Inpa, segundo a pesquisadora, é realizar um acompanhamento de longo prazo de uma área, localizada ao norte de Manaus, que foi fragmentada no início do projeto e que, desde então, vem sendo estudada a fim de se saber como a floresta está se recuperando no âmbito das áreas de controle, “áreas que são florestas, teoricamente, intactas e as áreas com distúrbios, com diferentes graus de desmatamento e de recuperação”, esclarece a pesquisadora.
“É como um grande laboratório que existe perto de Manaus”, porque o projeto se baseia na comparação de aspectos das áreas de floresta intacta e das áreas em recuperação. História, quando foi desmatada, desde quando não é mais mexida, entre outros aspectos, fazem parte das investigações. Os bancos de dados, resultantes do PDBFF, “são extremamente raros e muito importantes para a gente entender como a floresta muda de verdade”, avalia Camila.
Esses dados, obtidos ao longo dos 42 anos de instalação do projeto, mostram que mesmo as áreas preservadas sofreram mudanças, com impactos na biodiversidade.
“Quando a gente está comparando, hoje, uma área íntegra com uma degradada, a gente está vendo só uma parte da história, porque raramente a gente tem a chance de comparar a área de muitos anos atrás com a área degradada atual”, diz a pesquisadora.
* Com informações do Jornal USP