A princípio, ao meu ver não existe a indicação de partir para métodos contraceptivos, pois não há urgência em interromper as tentativas naturais, isso porque é uma situação diferente da epidemia recente do zika vírus, que estava claramente ligado a malformações no bebê. Temos ainda a opinião do presidente da Febrasgo, que está alinhada com o posicionamento publicado pelo The New England Journal of Medicine no final do ano passado, que defende que o aconselhamento sobre como evitar a gravidez tende a se basear em uma doutrina de aconselhamento não diretivo, em que um médico oferece informações sobre os riscos e abordagens para minimizá-los e apoia as pacientes na tomada de decisões informadas”.
A epidemia de Covid-19, provocada pelo novo coronavírus, pegou o mundo desprevenido e deixou a vida de muita gente em suspensão, para a mulher que está tentando engravidar, o momento de incertezas pode ser ainda mais tenso e gerar dúvidas. Afinal, devo adiar os planos de ser mãe? O melhor é dizer que não sabemos, pois ainda não estão claras as repercussões do vírus na gestação. Isso porque segundo pesquisas médicas o vírus não parece ter efeitos nas taxas de reprodução ou no sucesso da gestação, a pesquisa ainda afirma que na China e na Itália, não houve relatos de aborto, malformação ou transmissão intraútero do vírus.
Existem muitos reflexos de efeitos emocionais em adiar uma gravidez, e nesse período de pandemia de Covid-19, os brasileiros receberam uma recomendação no dia 16 de abril de 2021, do secretário de Atenção Primária à Saúde do Ministério da Saúde, Raphael Parente, ele pediu, que as mulheres adiem a gravidez até haver uma melhora da pandemia de Covid-19, se for possível. E essa medida trouxe uma certa instabilidade emocional para as mulheres/casais que planejavam ter um filho, pois suas expectativas, valores e crenças foram desafiadas pelas dificuldades desse período, veio a ansiedade materna e uma gama de sequelas emocionais e psicológicas que os pacientes passam após suas expectativas, valores e crenças serem desafiados pelas dificuldades da reprodução.
Para a maioria dos homens e mulheres, a habilidade de conceber e dar à luz a uma criança está relacionada com suas noções de feminilidade e masculinidade, a uma identificação de gênero e à compreensão da vida.
Quando os esforços para conseguirem procriar falham, o casal é assolado por sentimentos profundos de culpa e inadequação, que levam a frequentes questionamentos e revisões de suas vidas e dos fatos que poderiam ter levado à infertilidade. O acompanhamento terapeutico provê suporte, compreensão e novas experiências que levarão a um resultado de aprendizado de novas formas de comportamento. Abre um espaço para que homens e mulheres possam trabalhar, de uma forma sistemática e organizada, suas dificuldades, dúvidas e decisões, e ter a oportunidade de explorar, descobrir e eventualmente experimentar novas formas de vida ou estratégias de lidar com essa orientação.
É muito importante que o paciente esteja engajado no trabalho, confiando em sua relação com o terapeuta. As perdas associadas com a inabilidade de conceber ou dar à luz a uma criança, frequentemente reacendem questões e conflitos não resolvidos no passado. Os pacientes podem descrever-se com sentimento de depreciação por seus esforços sem sucesso em conceber e incompreendidos em sua dor emocional.
Um estudo publicado recentemente no Journal of Clinical Medicine entrevistou, entre os dias 1.º de junho e 31 de agosto de 2020, mulheres acima de 18 anos, com gestação igual ou superior a 36 semanas, em hospitais universitários públicos de dez cidades do Brasil, e as participantes responderam um questionário específico, abordando seus conhecimentos e preocupações acerca da pandemia. Em 23,4% das entrevistadas foi observado que a pandemia afetou a saúde mental das gestantes, com presença de ansiedade materna moderada ou grave.
Preocupa-se que o aumento da ansiedade materna observado no estudo estava relacionado principalmente à confiança na autoproteção contra a covid-19, bem como relacionado a dúvidas quanto à presença de acompanhante durante o parto e a segurança da amamentação.
O trabalho revelou outras fontes de preocupação e insegurança com impactos na saúde mental das gestantes nas semanas que antecedem o parto: efeitos potenciais da infecção materna no feto e no recém-nascido; a necessidade da manutenção do isolamento social nesse período, isso além de preocupações também compartilhadas pela sociedade como um todo, como a restrição de liberdades individuais, risco de perdas financeiras, o declínio na qualidade de vida e mensagens conflitantes de autoridades governamentais. Tudo isso pode somar como fatores de estresse e possivelmente desencadear crises de saúde mental.
Ressalto que a experiência do parto em plena pandemia também sofre interferências, no hospital, a retirada de itens pessoais, a redução do número de visitantes e acompanhantes, a redução do equipe de assistência ao parto, o uso de máscaras e equipamentos de proteção individual por todos os profissionais são medidas que possivelmente impactam nas expectativas dessas gestantes.
Concluo dizendo que a ferramenta mais eficaz para combater a ansiedade materna em tempos de pandemia é a informação, principalmente, no momento em que estamos vivendo uma alta no número de casos de covid-19, é fundamental que as autoridades públicas considerem intervenções imediatas e empenhem atenção na saúde da mulher, ofertando o máximo de recomendações e cuidados. A confiança em saber como se proteger da infecção e saber como amamentar seu bebê com segurança são medidas simples e eficientes na redução da ansiedade e, como resultado, um final de gestação e parto de maior qualidade, da forma como toda e qualquer mãe sonha.
Por Samiza Soares
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