A Índia ultrapassou o México e se tornou o terceiro país com mais mortes por Covid-19 do mundo nesta segunda-feira (3), mostram dados da Universidade Johns Hopkins e do “Our World in Data”, projeto ligado à Universidade de Oxford.
O país mais afetado pela pandemia atualmente registrou mais 3,4 mil mortes e 368 mil casos, elevando o total de vítimas para quase 219 mil e o de infectados para 19,9 milhões.
Com isso, a Índia assumiu o lugar do México, que tem 217,2 mil óbitos, e agora só está atrás de Estados Unidos (577 mil) e Brasil (407 mil), segundo o G1.
A Índia passa por um colapso em seu sistema de saúde e, no sábado (1º), se tornou o primeiro a registrar mais de 400 mil novos casos em um único dia.
Com mais de 1,3 bilhão de habitantes, o segundo país mais populoso do mundo é também o segundo em número de casos confirmados, atrás apenas dos EUA (32,4 milhões) e à frente do Brasil (14,7 milhões).
O país é responsável por 46% de todos os novos casos e 26% de todas as novas mortes do mundo nos últimos sete dias.
Faltam leitos, remédios e oxigênios nos hospitais em todo o país. Crematórios e cemitérios não conseguem atender à quantidade de corpos, e cremações em massa têm sido realizadas em diversas cidades do país.
Mesmo com os recordes diários de casos e mortes, há fortes indícios de subnotificação. O número de enterros e cremações sob protocolos de Covid-19 são muito maiores do que os dados do oficiais do governo.
Mulher recebe oxigênio dentro de carro enquanto espera por tratamento para Covid-19 em hospital de Ahmedabad, na Índia, em foto desta segunda-feira (26) — Foto: Amit Dave/Reuters
Resposta nas urnas
Em meio ao caos sanitário no país e críticas ao governo pelo descontrole na pandemia, o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, sofreu uma dura derrota eleitoral no domingo (2).
O Partido Bharatiya Janata (BJP), de Modi, não conseguiu conquistar o estado de Bengala Ocidental. O primeiro-ministro tem sua base eleitoral no norte e oeste do país e tentava ampliar seu poder para o leste.
O BJP continuou a fazer comícios e a levar multidões às ruas na reta final da campanha mesmo com os recordes diários de casos e mortes. O partido conseguiu manter o poder no estado de Assam, no nordeste do país, mas perdeu em dois estados no sul.
Modi tem sido criticado por se recusar a adotar um lockdown nacional, ao contrário do que foi feito em 2020, e por ter liberado comícios eleitorais, festivais religiosos e até partidas de críquete com torcida.
Falhas do governo
Em janeiro, Modi afirmou no Fórum Econômico Mundial de Davos que “a Índia foi bem-sucedida em salvar tantas vidas, nós salvamos a humanidade toda de uma grande tragédia”. Em março, o ministro da Saúde indiano, Harsh Vardhan, declarou que o país estava na “fase final” da pandemia.
O otimismo de Modi e Vardhan era baseado em uma queda acentuada no número de infectados e mortos.
O número de casos confirmados despencou de um pico de 93 mil em setembro para 11 mil em fevereiro, e os óbitos foram de mais de 1,1 mil para menos de 100 em março. Com a explosão da segunda onda, o país registra atualmente uma média de 370 mil novos casos e 3,4 mil mortes por dia.
O governo indiano culpa o desrespeito ao distanciamento social e o não uso de máscaras pela população como causas para o surto.
Especialistas responsabilizam também o governo, que além de se recusar a adotar um lockdown nacional tenta responsabilizar autoridades estaduais pela situação fora de controle.
O primeiro-ministro indiano Narendra Modi, ao lado do presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, durante cerimônia de comemoração do Dia da República da Índia — Foto: Alan Santos/PR
Diante da inação do governo federal, ao menos 11 estados e territórios impuseram algum tipo de restrição para tentar conter as infecções.
“As lideranças em todo o país não transmitiram adequadamente que se tratava de uma epidemia que não havia desaparecido”, afirmou K Srinath Reddy, presidente da Fundação de Saúde Pública da Índia, ao jornal britânico “The Guardian”.
“A vitória foi declarada prematuramente e esse clima foi espalhado por todo o país, especialmente por políticos que queriam fazer a economia andar e voltar à campanha”, disse o especialista há algumas semanas. “E isso deu ao vírus a chance de crescer novamente”.