Há algumas gerações tentam determinar qual é o esteriótipo da mulher brasileira. Já disseram que era aquela coisa mais linda que vem e que passa, cuja musa era uma jovem de longos cabelos lisos da sociedade carioca. Em outros tempos, a imagem da esguia modelo de olhos azuis era difundida como a cara do Brasil.
É verdade que é bem difícil determinar qual seria o padrão ao qual se encaixaria a diversidade da beleza brasileira. E é aí que a atual intitulada Garota do Rio, Anitta, aposta em seu novo vídeo lançado na tarde desta sexta-feira: a de que não existe esse padrão.
Após uma massiva ação de marketing (e disso ela entende bem) que envolvia imagens em um ônibus que viralizaram em mil versões, Anitta celebra em seu novo vídeo a diversidade de corpos, estilos e sensualidades que compõem o estilo de vida, essencialmente, carioca.
Anitta lança ‘Girl From Rio’ com referências ao Rio de Janeiro e diz que ‘desacelerou’
O clipe se divide em duas estéticas: uma mais anos 1960, com referências à bossa nova e à época do lançamento do clássico Garota de Ipanema, de Tom Jobim e Vinicius de Moraes, com estilo doce, recatado; e outra contemporânea (ou nem tanto, visto que a aglomeração na praia ainda não é uma realidade no Brasil), com uma farra no piscinão de ramos, no Rio de Janeiro, com direito a futebol na areia, isopor com cerveja e pegação.
E são essas cenas protagonizadas no piscinão em que a beleza do diversidade é exaltada. A cantora se cerca de um grande grupo de homens e mulheres dos mais variados biotipos, todos exaltando a sua própria beleza e sentindo-se maravilhosos na própria pele.
Na letra, Anitta diz: “as garotas mais gostosas de onde eu vim não são modelos, elas tem marquinha de biquíni, grandes curvas e a energia que faz brilhar”. O padrão antes exibido seja pela Garota de Ipanema ou pela Uber Model não cabe no piscinão da malandra. Além disso, o doce balanço ou o desfile com trocas de pernas dão lugar ao rebolado, ao quadradinho e a sarrada dos bailes.
Em um tempo que influenciadoras com milhões de seguidores vilanizam a comida e exaltam magreza como troféu de jejum, observar um dos nomes mais fortes da música e do entretenimento brasileiro exaltar a diversidade corporal, o corpo livre, a beleza diversa é algo a ser celebrado.
Desde “Vai, Malandra“, quando Anitta botou pra jogo as suas celulites, que ter corpos sem retoques, principalmente femininos, em vídeos e campanhas celebrados como belos é parte do caminho para termos cada vez menos espaço para padrões.
Poderia a beleza e o corpo feminino não ser tanta pauta. Poderia, neste caso inclusive, estar analisando outros componentes do clipe, cujo investimento foi o mais alto da carreira da pop star e envolvem aspectos estéticos e musicais repletos de referências. Porém, quando temos uma grande indústria lucrando com a baixa autoestima das mulheres, quando outras ainda deixam frequentar uma praia por vergonha do corpo ou ainda quando são julgadas a partir do quanto marcam em uma balança, continuarei precisando falar sobre isso.
“Girl From Rio”, afinal, é um desbunde.
E fica o desejo para quando, finalmente, podermos aglomerar em uma boa praia e exibir nosso corpitcho como bem entendermos. Vacinados, de preferência!
*A reportagem é do Diário do Nordeste