Num clima tenso, marcado por trocas de farpas políticas e questionamentos sobre a composição do colegiado, o Senado Federal instalou, ontem (27), a Comissão Parlamentar de Inquérito que vai investigar as ações e omissões do governo federal na pandemia e eventuais irregularidades na administração dos recursos repassados a estados e municípios pela União. Um dos 11 membros titulares da CPI, o senador Eduardo Braga (MDB/AM) salientou que a investigação deve ser norteada pelo compromisso com a verdade, a transparência e a ciência e pela responsabilidade com a vida dos brasileiros.
“Muito mais do que apontar culpas, temos, a partir do trabalho desta comissão, a oportunidade de apontar caminhos para salvar milhares de vidas”, declarou o líder do MDB no Senado. Braga enxerga na CPI da Pandemia a chance de corrigir as decisões e rumos adotados até agora no enfrentamento da pandemia. “Decisões e rumos tão equivocados que impuseram ao país um rastro dramático de medo, de perdas e sofrimento, na saúde, na economia e na área social”, ponderou.
Falta de estratégia
Após a eleição do presidente da CPI, senador Omar Aziz (PSD/AM), e da indicação do relator, senador Renan Calheiros (MDB/AL), Eduardo Braga lamentou a escalada galopante de vidas perdidas na pandemia – com mais de 391 mil vítimas fatais, o Brasil é o segundo país no mundo em número absoluto de mortes pela covid-19 e o 12º em número de mortes por milhão de habitantes.
Na avaliação do senador do Amazonas, não faltaram recursos para o enfrentamento da pandemia. A transmissão desenfreada da doença, o número alarmante de mortes e o caos sanitário instalado Brasil afora são, segundo ele, “o legado da falta de planejamento, da falta de vontade política e de coordenação na luta contra a covid-19”.
O legado da falta de estratégia do governo, de omissões e decisões equivocadas também pode ser medido, completou o senador, “pelo agravamento da crise que fecha as portas de tantas empresas e empurra uma multidão de brasileiros para a fome e para o desemprego”.
Tragédia anunciada
“A tragédia que vivemos hoje é uma tragédia mais que anunciada”, criticou Eduardo Braga, lembrando que ele próprio chegou a alertar o governo de que o caos sanitário que assolou o Amazonas iria se repetir país afora. “Essa CPI é uma resposta a todos os amazonenses que sofreram os dois meses mais negros de sua história”, declarou, recordando o horror da morte por asfixia de inúmeros pacientes, por conta da crise de abastecimento de oxigênio no Estado.
Não há justificativa plausível, na opinião de Eduardo Braga, para o governo não ter planejado com antecedência a distribuição de vagas nas UTIs, o treinamento adequado de profissionais de saúde e o abastecimento de insumos e medicamentos, como os kits de intubação. “Por que não tratamos de prevenir o problema, usando aviões da FAB para trazer e distribuir esses kits? “, questionou.
O erro mais básico, para o líder do MDB, foi o governo ter se negado a planejar e a negociar antecipadamente a compra de vacinas, ainda no final de 2020.
“Estamos colhendo o que plantamos. Temos uma vacinação a conta-gotas e um abismo assustador entre o número de imunizados e o percentual mínimo necessário para frear o contágio”, lamentou.
Ele também destacou as falhas na área da diplomacia e a falta de transparência na divulgação de dados sobre as ações governamentais na pandemia. Previsões sobre a chegada e a distribuição de vacinas mudam a cada dia, alfinetou o senador.
No encerramento do discurso, Eduardo Braga foi incisivo: “Esta CPI não tem nem pode ter, de forma alguma, o objetivo de servir de palco político partidário a quem quer que seja. O que ela precisa honrar é a vida e a esperança de todos os brasileiros.”