Defendendo a importância do isolamento social para tentar reduzir o pico de casos do novo coronavírus em Manaus, previsto para acontecer a partir da segunda semana do mês de maio, o prefeito Arthur Virgílio Neto criticou o comportamento e as últimas declarações do presidente Jair Bolsonaro. “Passa da hora dessas piadas. É Messias, mas não faz milagre. Ninguém espera milagre dele. O que espero é um avião cheio de remédios, de EPIs, instrumentos médicos”, disse o prefeito em entrevista nesta quarta-feira, 29/4, ao Jornal da Manhã, da rede Jovem Pan.
Manaus, juntamente com São Paulo, Rio de Janeiro, Fortaleza e Brasília, está entre as cidades brasileiras mais afetadas pela pandemia de Covid-19 e, até a terça-feira, 28, foram 4.337 casos confirmados da doença. O número de sepultamentos na capital amazonense, que concentra o atendimento hospitalar da população infectada no Estado, há uma semana supera os cem enterros diários.
“Não vejo outra saída para Manaus, nem para o Brasil, se não um rigoroso isolamento social. Aqui não funcionou por duas razões: primeiro uma certa rebeldia das pessoas e outro fator é o discurso desmobilizador do presidente. Até o presidente Trump recuou da sua tolice, por eleição ou não, mas todos o seguiram”, criticou Arthur Virgílio.
Ainda no contexto internacional, o prefeito de Manaus voltou a falar do pedido de ajuda aos países do G20, para envio de médicos, medicamentos, aparelhos para novas UTIs e equipamentos de proteção aos profissionais de saúde. Segundo Virgílio, o mesmo pedido já foi feito ao governo federal, mas o auxílio ainda não chegou. “Precisamos de ajuda rápida. A ajuda que não é rápida não é ajuda”, pontuou, destacando que está confiante na mediação do novo secretário-executivo do Ministério da Saúde, general Eduardo Pazuello.
Arthur Virgílio Neto também defendeu que os dados em relação ao agravamento da crise do novo coronavírus na capital precisam ser tratados com mais clareza. “Vivemos um quadro grave, os sepultamentos pularam de 20 a 32 por dia e estão acima de cem. Os atestados registram como doenças respiratórias e causas indefinidas. Não consigo entender como uma pessoa entra no hospital e sai morta sem saber qual a causa. Eu traduzo isso como Covid”, denunciou o prefeito de Manaus, que atribui o aumento na demanda de sepultamentos à falta de estrutura dos hospitais de média e alta complexidade.
“Temos o enfraquecimento da rede de saúde estadual por falhas de sucessivos governos. Pela divisão do SUS, a média e alta complexidade cabe Governo do Estado. Nos metemos a fazer alta complexidade com o hospital de campanha municipal Gilberto Novaes, com nada de dinheiro público, nada de dinheiro federal e muita ajuda privada”, disse o prefeito.
“Não devemos subnotificar casos, devemos dar números verdadeiros, até para tratar com clareza com o governo federal e demais líderes do G20. Manaus não está preparada para enfrentar o pico da Covid-19. Por isso peço ajuda, com humildade, mas também com altivez, porque o Amazonas é responsável por manter 96% da sua floresta amazônica preservada”, finalizou Virgílio.