O Ministério da Saúde prevê gastar até R$ 250 milhões para oferecer hidroxicloroquina e azitromicina no programa Farmácia Popular. O plano prevê reembolsar farmácias conveniadas para que distribuam de graça os medicamentos que compõem o chamado “kit-covid”. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Apesar da ausência de comprovação científica no tratamento do novo coronavírus, as drogas são defendidas pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) como parte do “tratamento precoce”. Bolsonaro, a primeira-dama Michelle Bolsonaro e alguns ministros que contraíram a doença afirmaram ter feito uso do medicamento.
No Farmácia Popular, os estabelecimentos conveniados entregam medicamentos de graça ou com até 90% de desconto e recebem reembolso pelo valor que pagaram à indústria. O estudo para incluir o medicamento no programa corre em sigilo no ministério desde o começo de julho. Segundo documento obtido pelo jornal, a proposta recebeu, nesta semana, aval da área jurídica da pasta e está agora nas mãos do ministro Eduardo Pazuello.
Para obter o “kit-covid”, será exigida prescrição médica. Segundo a tabela de preços definida pelo governo federal, custa R$ 25 cada caixa com 10 comprimidos de sulfato de hidroxicloroquina 400 mg, medicamento indicado na bula para artrite reumatoide, lúpus e malária. Já 10 comprimidos do antibiótico azitromicina 500 mg, indicado o tratamento de infecções respiratórias ou sexualmente transmissíveis, valem R$ 35.
A reportagem aponta que com os mesmos R$ 250 milhões previstos para distribuir o “kit-covid” seria possível ao governo comprar 13,18 milhões de doses da vacina produzida pela Universidade de Oxford e pelo laboratório AstraZeneca, ao preço de R$ 18,95 por unidade, suficiente para imunizar quase 7 milhões de pessoas.
Estoque
Segundo o jornal, há mais de 2,5 milhões de comprimidos de hidroxicloroquina encalhado nos estoques. O Brasil recebeu 3 milhões de comprimidos dos Estados Unidos em novembro, mas não conseguiu distribuir nem 500 mil unidades. Além disso, Bolsonaro turbinou a produção da cloroquina no Laboratório do Exército, que fez mais de 3,2 milhões de comprimidos.
Desde o início da pandemia, Bolsonaro propaga o uso da cloroquina e da hidroxicloroquina no tratamento da Covid-19, apesar da ausência de comprovação científica acerca de sua eficácia. Além de não ser recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), o medicamento também não encontra respaldo entre pesquisadores e médicos. Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich, que são médicos, deixaram o comando da Saúde após divergências com o presidente em torno da propagação da droga.
O Ministério da Saúde foi procurado pela reportagem do Estadão para comentar o estoque de hidroxicloroquina e a inclusão do medicamento no Farmácia Popular, mas se recusou a comentar.