A legislação, lembra o advogado Peccinin, diz que a propaganda eleitoral não pode ser utilizada para fins comerciais, assim como um candidato não pode relacionar a sua campanha ou conectar suas propostas a uma empresa porque “o serviço prestado pela empresa e toda a sua estrutura favorece o candidato”.

Surpreende que a própria Samel tenha se prontificado a administrar o hospital municipal de campanha, doando medicamentos e funcionários, sem ganhar nada em troca. Como mostramos em maio, o hospital particular da rede que atendia pacientes com a covid-19 cobrava até R$ 100 mil adiantado para fazer uma internação na UTI. Para a campanha de Amazonino, o interesse do adversário ficou evidente poucos meses depois.

“Analisando retroativamente o suposto bomsamaritanismo”, diz um trecho da ação movida pela coligação do adversário Amazonino Mendes, “o que verdadeiramente ocorreu fora a tentativa de construção de capital político a partir do sofrimento das vítimas da pandemia”.

A Samel tentou, inclusive, pegar de volta os equipamentos que havia doado ao hospital de campanha. Segundo a empresa, o objetivo era levar o material ao estado de Roraima, onde instalou outra unidade de saúde para tratar pacientes com a covid-19 gratuitamente. A prefeitura de Manaus se recusou a entregá-los. O diretor-presidente do grupo e irmão de Ricardo Nicolau, Alberto Nicolau, disse que era “absurdo” o bloqueio dos aparelhos cedidos pela Samel e pela Transire” e que iria acionar a justiça. Por e-mail, a prefeitura de Manaus informou que uma decisão judicial determinou que materiais e equipamentos doados pelas empresas fossem devolvidos.

Questionei o candidato sobre a comprovada amizade da juíza Hoaegen com membros da sua família, o que levanta suspeitas quanto às decisões favoráveis a ele. Por e-mail, a assessoria de comunicação de Nicolau respondeu que:

“sugerir ou acusar uma juíza de tomar uma decisão para privilegiar uma campanha é algo complexo do qual o ônus da prova é de quem acusa”.

E acrescentou que o candidato “não produziu qualquer propaganda comercial dentro do horário eleitoral” e que “divulga a montagem do hospital de campanha porque são fatos que fazem parte da trajetória da empresa”. Ele alega que “a história da Samel se confunde com a história de Ricardo Nicolau”.

O mais pobre dos candidatos

Nicolau é um dos candidatos com menor patrimônio declarado à justiça eleitoral.  O candidato diz que possui apenas dois carros nos valores de R$ 27 mil e R$ 69 mil e uma empresa de construção com capital de R$ 200 mil.

Em outubro, Nicolau moveu uma ação contra o jornalista Dante Graça, a Rede Calderaro de Comunicação, o Facebook e o Twitter para que fosse excluída uma matéria jornalística publicada no site e no jornal A Crítica e compartilhada nas duas redes sociais. O texto dizia que Nicolau havia chegado ao debate promovido pela afiliada da Band do estado no dia 1º de outubro “a bordo de um Jeep Compass, SUV de luxo que tem preço inicial de R$ 128 mil”, um valor bem maior do que os veículos declarados como bens.

O candidato alegou que era evidente o “intuito de prejudicar sua imagem”, e a juíza Mônica Cristina Raposo lhe deu razão. Na censura à reportagem, ela determinou “a imediata remoção do artigo” e a publicação do direito de resposta do candidato não apenas no site e nas redes sociais do grupo de comunicação, mas também no perfil pessoal do jornalista Graça. Por mensagem, o jornalista me disse que vai recorrer ao pleno do Tribunal Regional Eleitoral.

Apesar do baixo patrimônio declarado, Nicolau é o candidato que mais pretende gastar com a campanha. Até agora ele contratou R$ 5,5 milhões em despesas, de acordo com a prestação de contas parcial disponível no DivulgaCand. Ao todo, Nicolau já recebeu oficialmente mais de R$ 3 milhões, contando com as doações do seu advogado Cleuter, do irmão Alberto Nicolau e do diretório do seu partido.