No primeiro mês de aulas presenciais nas escolas estaduais de Manaus, 5% dos servidores que atuaram nas unidades tiveram teste positivo para o novo coronavírus e foram afastados. O governo não informou quantos tiveram complicações ou sintomas graves da doença, de acordo com a reportagem da Folha de São Paulo.
O governo do Amazonas foi o primeiro do país a autorizar a volta às aulas nas escolas estaduais, com o retorno em 10 de agosto apenas para os alunos do ensino médio. Segundo a Fundação de Vigilância em Saúde do estado, até 11 de agosto 361 dos 6.626 profissionais —5,4% do total— que atuaram nas escolas apresentaram anticorpos IgM, que indica infecção na fase ativa, ou seja, foram infectados de 8 a 14 dias antes do testes.
O número de infectados após a reabertura das escolas pode ser ainda maior, já que outros 1.616 apresentaram IgG, que identifica o anticorpo de fase tardia da doença, que aparece depois de pelo menos 15 dias de infecção. Só retornaram às atividades presenciais os servidores que não são do grupo de risco.
“É um percentual relativamente baixo perto do que a gente esperava. Para nós, esse número comprova que a escola é um ambiente controlado e que pode ser monitorado”, avalia Luis Fabian Barbosa, secretário de educação do Amazonas.
Apesar de o resultado ser considerado positivo pelo secretário, o planejamento inicial para o retorno das atividades presenciais para as demais etapas da educação foi adiado. O governo planejava retomar as aulas para o ensino fundamental (do 1º ao 9º ano) em 24 de agosto, mas adiou o reinício e ainda não há nova data prevista.
Ainda que 5% dos servidores das escolas tenham tido teste positivo, a secretaria não suspendeu as aulas para nenhum estudante. Segundo a pasta, não houve registro de contaminação de nenhum aluno. No entanto, estão sendo testados apenas os servidores.
Nos adolescentes, só é feito o teste caso eles tenham sintomas e procurem alguma unidade de saúde. Inquérito sorológico feito na cidade de São Paulo identificou que entre 66% e 70% dos estudantes de 4 a 14 anos, que tinham anticorpos para Covid-19 não apresentaram sintomas. Na população adulta, a taxa de assintomáticos é de 38,2%.
Segundo Barbosa, o protocolo seguido foi o afastamento imediato dos 361 servidores por 14 dias. Para os estudantes que tiveram contato com eles, a única precaução foi a de interrupção das aulas presenciais por 24 horas para desinfecção dos espaços. “Passado esse período, as atividades podem seguir normalmente”, diz nota da secretaria.
Questionado sobre a possibilidade de os alunos terem sido infectados e serem assintomáticos, colocando em risco suas famílias, o secretário afirmou ser “uma resposta que ninguém tem como dar”.
“Avaliamos que a decisão foi acertada, que o risco de transmissão, quando as regras sanitárias e de distanciamento social são respeitadas, é muito baixo. Muitos estados têm nos procurado porque saímos à frente nesse processo e estamos mostrando que é seguro”, diz.
O número de novos casos de coronavírus em Manaus aumentou nas últimas semanas. Em 10 de agosto, a cidade registrou 226 novos casos. Nesta segunda (21), o número de novos casos foi de 305 —um aumento de 35% em relação ao dia de reabertura das escolas.
Segundo o monitor da Folha, a cidade tem velocidade considerada estável, ou seja, com número constante de novos casos, mas ainda em volume significativo.
Para a Asprom (sindicato dos professores da rede pública de Manaus), a proporção de infectados é inaceitável e a volta às aulas foi precipitada. Parte dos docentes está em greve desde 10 de agosto para que a reabertura das escolas seja suspensa.
“É chocante que considerem que esse número é baixo. Estamos com 5% dos professores infectados e isso porque são apenas aqueles que não são do grupo de risco. Sem falar que é uma irresponsabilidade não saber qual o impacto dessas infecções nas famílias dos estudantes”, diz Helma Sampaio, coordenadora do sindicato.
Para Barbosa, a volta às aulas foi importante para evitar um prejuízo maior na educação dos estudantes ainda que não tenha conseguido alcançar os que estão em maior vulnerabilidade. Segundo ele, dos quase 100 mil estudantes de ensino médio nas escolas estaduais de Manaus, 75% estão frequentando as aulas presenciais.
Os outros 25% são exatamente aqueles que não fizeram nenhuma das atividades remotas durante o período de suspensão de aulas. “O prejuízo desse período foi enorme. Na nossa rede, 40% dos alunos não fizeram atividades a distância e só 15% deles voltaram à escola. Temos que ir atrás desses outros 25% agora”, diz.