*Audrey Bezerra – da redação do Dia a Dia Notícia
Criado oficialmente em 2014, o Parque das Tribos, localizado no bairro Tarumã-Açu, na zona Oeste de Manaus, se tornou símbolo de resistência indígena em contexto urbano. No entanto, apesar do reconhecimento e da rica diversidade cultural, os cerca de 5 mil moradores da comunidade ainda enfrentam a ausência de infraestrutura básica.
Composto por aproximadamente 860 famílias de 35 etnias indígenas — como Kokama, Tikuna, Sateré-Mawé, Tucano, Witoto, Marubo e Baré — o Parque das Tribos é considerado o primeiro bairro indígena urbano do Brasil. Ainda assim, as denúncias de abandono por parte do poder público têm se intensificado nos últimos anos.
Entre os principais problemas relatados estão a precariedade do transporte público, a falta de saneamento básico, ruas não asfaltadas e a ausência de serviços de saúde e educação adequados. A dificuldade de acesso de veículos é uma das reclamações também dos moradores.
Muitos moradores reclamam também da dificuldade de acesso a escolas e postos de saúde. O deslocamento até o centro da cidade, por exemplo, pode levar horas, agravado pela escassez de linhas regulares de ônibus. A ausência de rede de esgoto e coleta de lixo eficiente impacta diretamente a saúde da população local.
“Vivemos aqui há anos, preservando nossa cultura, nossa terra e nossa língua, mas ainda somos invisíveis, quando se trata de direitos básicos”, afirma a moradora Brasileira Witoto, 57 anos, da etnia Witoto.

Reconhecimento como bairro é visto como avanço necessário
Em outubro de 2024, o ex-vereador William Alemão (Cidadania) apresentou a indicação nº 381/2024 ao Instituto Municipal de Planejamento Urbano (Implurb), solicitando o reconhecimento formal do Parque das Tribos como um bairro independente no Plano Diretor de Manaus.

“Esse é um pedido legítimo dos moradores e pode abrir portas para políticas públicas específicas voltadas à infraestrutura, transporte, escolas e saúde”, afirmou o parlamentar na época. Até agora, no entanto, o pedido não avançou. Sem o reconhecimento oficial, a comunidade segue marginalizada em termos administrativos e orçamentários, dificultando investimentos diretos.
Esperança por melhorias
Em novembro de 2024, o prefeito de Manaus, David Almeida (Avante), anunciou a construção do primeiro complexo habitacional – com 576 moradias do programa “Morar Melhor”, uma parceria entre a Prefeitura de Manaus e o Governo Lula, por meio da Caixa Econômica Federal. Na época, Almeida disse que as unidades seriam entregues em outubro ou dezembro de 2025. Com a construção desse complexo, os moradores acreditam que haverá melhorias de infraestrutura básica no bairro.
Cultura viva em meio à negligência
Apesar das dificuldades, o Parque das Tribos é um exemplo de como é possível preservar as raízes em meio ao crescimento urbano. Línguas indígenas são ensinadas dentro das casas; o artesanato, produzido com recursos da floresta e técnicas ancestrais, é fonte de renda para dezenas de famílias; e os rituais e a culinária tradicionais seguem sendo parte do cotidiano da comunidade.
Em meio às dificuldades, os moradores seguem mobilizados. A luta, agora, é por visibilidade política, melhorias concretas e o cumprimento dos direitos já garantidos pela Constituição.
Enquanto o reconhecimento oficial não chega, o Parque das Tribos segue sendo um retrato do Brasil profundo — onde cultura e resistência florescem, mesmo sob o peso do descaso.
