*Paula Litaiff – Revista Cenarium
Com um perfil mais cartesiano e menos político, o pré-candidato a prefeito de Manaus, coronel reformado do Exército Alfredo Menezes Júnior (Patriotas), de 56 anos, concedeu entrevista sobre suas principais prioridades para gestão municipal e fez críticas ao que ele chamou de “velha forma de fazer política” no Amazonas, revelando com exclusividade os reais motivos de sua saída do comando da Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa), em junho deste ano, que envolveu a demissão de funcionários apadrinhados por parlamentares da bancada amazonense no Congresso e a pressão sobre o presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido). Saiba como tudo ocorreu na entrevista completa abaixo:
REVISTA CENARIUM – O senhor é conhecido por ter uma personalidade pragmática, com fortes traços de sua origem militar. Isso atrapalha nas negociações partidárias e na gestão administrativa já que o oficial de alta patente é acostumado a dar ordens?
CORONEL MENEZES – Nem tudo que a mídia fala dos militares é verdadeiro. Veja o meu caso: eu nasci na Cachoerinha (bairro da zona Sul de Manaus), depois fui para o Alvorada (bairro da zona Oeste da capital), meu pai não era milico (designação dada a qualquer militar), vim de uma origem simples, então, há muita coisa fantasiosa sobre mim e sobre os militares. Um grande exemplo disso é o Teixeirão (coronel Jorge Teixeira, ex-prefeito de Manaus, de 1974 a 1979, falecido em 1987, que não era um gestor que dava ordem, mas era admirado por sua liderança. O militar tem uma diferença, tem uma coisa chamada voz de comando. Ele gosta de realizar, o que é diferente de dar ordens. Existe uma grande diferença entre liderar e chefiar. Chefiar, você dá ordens; liderar, você inspira. Inspirar pessoas a agirem em favor de um bem comum, da coletividade.
CENARIUM – Como militar reformado das Forças Armadas, o senhor tem uma vida confortável. Por que decidiu entrar na política partidária e buscar na primeira eleição um cargo majoritário como o de prefeito de Manaus?
CM – Eu resumiria a minha resposta em uma frase: eu decidi entrar para política e concorrer à Prefeitura de Manaus por indignação. Falávamos anteriormente sobre o conceito que se criou em torno dos militares sobre eles terem a fama de dar ordens. No Amazonas e em outros Estados existem os coronéis da política, os tais caciques políticos. Eles acham que tudo precisa passar por eles, porque eles não admitem uma nova liderança sem passar por eles. Eu vi que o povo do Amazonas não precisa dessa política, eu não preciso dessa política e decidi que isso não podia ficar do jeito que está.
CENARIUM – Quem são esses que se consideram os “coronéis da política” no Amazonas? O senhor pode citar um nome?
CM – No Estado, há pelo menos uns cinco que se intitulam de caciques e um deles é o Omar (senador Omar Aziz – PSD e coordenador da bancada amazonense no Congresso). Na verdade, o Omar acha que manda, mas é um covarde. Eu sento para conversar com o José Ricardo (deputado federal do Amazonas pelo Partido dos Trabalhadores – PT), mas não sento com o Omar. Ele foi desrespeitoso comigo, mas isso não aconteceu só comigo. Ele é desrespeitoso com quem não atende aos desejos pessoais dele. Acha que por ser coordenador da bancada tem todo esse poder.
CENARIUM – Por que o senhor chama o senador Omar Aziz de covarde?
CM – Porque ele não teve coragem de falar o que achava que pensava de mim na minha frente. Falava por trás, dava recadinhos. Coisa de moleque. Isso não é comportamento de homem. Muito parecido com o ventríloquo dele, o Silas Câmara (deputado federal do Amazonas pelo Republicanos).
CENARIUM – Que conceito o senhor tem do deputado Silas Câmara?
CM – Ele está muito distante do mínimo aceitável para ser um cristão, um pastor (evangélico). Quando ele morrer, vai direto para o inferno e nem precisa de identidade. Vai entrar sem parar, como se fala no Rio de Janeiro.
CENARIUM – O senhor fala isso por causa da condenação que o deputado Silas tem no Supremo Tribunal Federal (STF) por fraude e falsidade ideológica e a atual investigação de desvio da Cota para Exercício de Atividade Parlamentar (Ceap)?
CM – Eu falo isso por esses motivos e pelo trato dele com as pessoas, mas só com aquelas que não fazem o que ele quer…
CENARIUM – Então, há uma resistência de sua parte em aceitar convergir com grupos políticos que tenham lideranças consolidadas? Isso pode ter sido a causa do seu afastamento da bancada e a saída da Suframa?
CM – Não é bem assim. Quero participar sim de uma liderança política do Estado, mas não no sentido de ser caudatário desse grupo político que dá as cartas há mais de 40 anos. A minha saída da Suframa não foi um consenso na bancada. Eles dois (Omar e Silas) que construíram isso na mídia.
CENARIUM – Então, o que de fato motivou a sua saída da Suframa, onde ficou por 16 meses (fevereiro de 2019 a junho de 2020)?
CM – Quando tomei posse da Suframa, havia muitos funcionários comissionados indicados por políticos em cargos sem gerar resultados à gestão pública. Demiti todo mundo e me taxaram de ser antipático. Fiz o que era certo fazer.
CENARIUM – Quem eram os políticos que tinham cabide de empregos na Suframa? Quem eram os funcionários, quanto ganhavam e quais funções?
CM – Quem mais tinham cargos na Suframa eram o Omar Aziz e o Silas Câmara, mas prefiro não falar em nomes, salários, porque tomei a decisão dentro da legalidade. E os dois parlamentares foram os principais articuladores da minha saída. Nunca falei isso abertamente na imprensa, mas agora penso que é o momento de todos saberem a verdade.
CENARIUM – Se o senhor fez o que era correto na gestão da Suframa e estava, em tese, executando uma boa gestão, por que o presidente Jair Bolsonaro optou por ceder à pressão e oficializou a sua exoneração?
CM – Não foi o presidente que optou pela exoneração. Eu vi que ele estava sofrendo uma pressão política em um momento difícil, quando enfrentava desafios como a instalação da CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito) das Fake News, investigações envolvendo os filhos dele, a busca por aliados no Congresso para aprovar matérias que alavancassem a economia e depois apareceu a pandemia do novo coronavírus. Acima de qualquer cargo, eu tenho uma grande amizade com o presidente que vai além de interesses políticos, eu sou padrinho de casamento dele. Quando eu notei esse cenário e a pressão de oportunistas, eu mesmo decidi entregar o meu cargo na Suframa. A minha amizade com o presidente vem de quatro décadas e é pautada pela lealdade, uma palavra que esses que se dizem caciques desconhecem.
CENARIUM – O senhor ficou magoado com o presidente Bolsonaro por ele não ter tido pulso firme para lhe segurar na Suframa, independentemente da pressão política que sofria?
CM – De jeito nenhum. O Omar e o ventríloquo dele, o Silas, espalharam essa ideia de que eu fiquei chateado.
CENARIUM – É verdade que o senhor foi chamado para assumir o comando da Secretaria Nacional da Amazônia após a saída da Suframa?
CM – Sim, o presidente Bolsonaro me sugeriu a pasta porque me queria na administração dele, mas decidi que o meu próximo cargo público ia buscar no voto.
CENARIUM – Em meio a essa ruptura com a velha forma de se fazer política sob o comando de “caciques”, qual a sua estratégia para compor seu arco de alianças para as eleições em Manaus?
CM – Estamos trabalhando uma boa base de pré-candidatos a vereadores sob a organização do deputado Felipe Souza, presidente estadual do Patriotas e buscando de uma forma correta o apoio de outras legendas, mas sem imposições e sim com a apresentação de projetos reais e concretos. É dessa forma que trabalhamos com transparência e objetividade e alinhados ao presidente Jair Bolsonaro.
CENARIUM – O presidente Bolsonaro já afirmou e reafirmou que não terá candidato a prefeito em nenhuma cidade brasileira no primeiro turno das eleições, como o senhor avalia essa decisão?
CM – Eu entendo que ele precise se comportar dessa forma por trabalhar com um Congresso de parlamentares ligados a várias correntes partidárias que compõem sua base governista e que são maioria. Acima de interesses políticos, o presidente prioriza a necessidade de o Brasil caminhar alinhado e isso depende de uma boa relação do Executivo com o Legislativo. De toda forma, acredito muito na nossa afinidade de pensamentos e da amizade que comungamos.
CENARIUM – Quais os partidos o senhor já recebeu sinalização positiva para sua candidatura majoritária? O deputado Alberto Neto falou que tinha iniciado uma conversa com o Patriotas…
CM – A conversa entre o Patriotas e o Republicanos do Alberto Neto não vingou, porque ele depende da decisão dos dirigentes do partido dele, que inclui o Silas Câmara. Estou em boa conversa com o PRTB (Partido Renovador Trabalhista Brasileiro), do vice-presidente da República, Hamilton Mourão, que também virou um amigo de longa data depois que trabalhamos juntos em uma missão da ONU (Organização das Nações Unidas).
CENARIUM – O PRTB tem como dirigente regional no Amazonas o presidente da Assembleia Legislativa do Estado (ALE/AM), deputado Josué Neto, que também lançou a pré-candidatura à Prefeitura de Manaus. Como fica isso?
CM – Só posso dizer que o Mourão vai caminhar com a gente nessas eleições, isso eu não tenho dúvida. Ainda há muita coisa para acontecer até o fim das convenções partidárias (16 de setembro de 2020).
CENARIUM – O que o senhor pretende priorizar no seu Plano de Governo que será entregue ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE)?
CM – Com base nas demandas que estamos ouvindo da população, vamos trabalhar projetos viáveis para melhorar mobilidade urbana e o transporte público coletivo.
CENARIUM – O senhor falou que o Silas Câmara, mesmo sendo cristão, vai para o inferno. E o presidente Bolsonaro vai para o céu, apesar de fomentar a desunião e o ódio entre brasileiros com frases do tipo: “vamos metralhar a petralhada?”
CM – Veja só, há um grande equívoco nas interpretações das frases do presidente. O momento em que ele falou isso, foi um momento no qual o Brasil passava e passa por problemas deixados pela esquerda. Não acredito que isso tenha sido falado no sentido real, mas foi em tom de crítica.
CENARIUM – O senhor aceitaria o apoio de partidos da esquerda para compor a sua coligação a prefeito de Manaus?
CM – Não posso aceitar por uma questão de coerência, mas concordaria em trabalhar junto com os vereadores de esquerda eleitos para ter governabilidade, dentro de um debate sadio no qual a população seja beneficiada. Se houver respeito deles, com toda certeza terão meu respeito.
CENARIUM – Com o atual cenário, fala-se muito na divisão da direita nas eleições à Prefeitura de Manaus. Qual a sua opinião sobre essa conjuntura?
CM – Para ser sincero, eu não sei mais o que é direita ou esquerda no Brasil. Eu vejo que cada um criou seu próprio conceito de ideologia política e não segue mais os princípios históricos. Eu responderia com outra pergunta: de qual direita estamos falando?
CENARIUM – A direita criada pelo presidente Jair Bolsonaro nas eleições de 2018…
CM – Vejo que aquela direita se disseminou. Ela não existe mais como era na sua origem, muitos seguiram outros caminhos e se alinharam a outros ideais e interesses…