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Com “Pedro e o Lobo”, Giramundo encanta pela maestria na manipulação de bonecos de madeira que são uma graça

*Artigo: Por Leidson Ferraz, Crítico convidado

O compositor ucraniano Sergei Prokofiev concebeu em 1936 uma fábula musical para apresentar às crianças as sonoridades de alguns instrumentos. Assim nasceu uma de suas obras mais conhecidas, “Pedro e o Lobo”, que continuará ganhando versões cênicas pelo mundo infinitamente. Isso porque, atrelado ao seu aspecto pedagógico (no melhor sentido da palavra: de compartilhamento de um conhecimento específico), ela dá margem para que a música e as artes cênicas se entrelacem com bastante desenvoltura. Assim, o conto sinfônico tem sido aproveitado de diversas formas, mas principalmente no teatro de formas animadas. O Grupo Giramundo Teatro de Bonecos, de Belo Horizonte (MG), lançou sua versão ainda em 1993 pela imaginação do saudoso mestre Álvaro Apocalypse, e desde então o trabalho não parou de ser apresentado, tornando-se o mais assistido clássico do seu repertório.

 

Eu mesmo vi “Pedro e o Lobo” há 19 anos, em 2005, no Recife, durante a programação do 2° Festival de Teatro Para Crianças de Pernambuco, e reencontrei a montagem agora, no Teatro ICBEU, em Manaus, integrando o “Festival SESI Cultura Infância – Uma Visão de Futuro”. Mais uma vez foi um prazer conferir esse trabalho dos mineiros, bonequeiros de excelência inegável. Na fantasia musical proposta, o objetivo pedagógico é ainda mais ressaltado pelo uso da palavra e a escolha de mudar o cenário original para um grande quadro de sala de aula onde três atores-manipuladores desenham, com uso de giz colorido, o ambiente em que a estória será passada. Eles nos transportam para o sítio do avô do Pedro, um menino que convive com animais em liberdade, como um pássaro, um gato e um pato, até que um lobo faminto de dentes afiados aparece para bagunçar aquela harmonia.

Para além do encanto dos bonecos de madeira, marionetes de fio cheias de expressividade e fofura, é o diálogo intenso com a plateia, durante todo o decorrer da encenação, que amplia a captura dos espectadores de todas as idades, de crianças em participação o tempo todo aos adultos hipnotizados pelo movimento dos pequenos seres. É impossível não ver vida em cada personagem apresentada, sempre com seu tema e instrumento musical específico como moldura, figuras que até são passadas de mão a mão pelos exímios marionetistas: Rai Bento, Ana Fagundes e Enzo Giaquinto. O garoto Pedro, por exemplo, aparece sempre ao som de um quarteto de cordas (2 violinos, viola e violoncelo), o gato pela clarineta, o pato – graciosíssimo – pelo oboé, o pássaro pela flauta transversa, o avô pelo fagote e o sinuoso lobo se movimenta acompanhado pelas trompas.

 

É nesse jeito diferente de contar/mostrar/musicalizar a trama, entre cordas, sopros, percussão (pela presença de um caçador), e muitos fios e madeira plenamente vivificada, que sons, instrumentos musicais recortados e bonecos personificam um simplérrimo conto sinfônico que não se furta de tratar do medo, do perigo, da perda e da busca por soluções de convivência, incorporando, inclusive, novas diretrizes para que os lobos dos contos infantis possam ganhar outros futuros possíveis. Repleto de gags, delicadezas e muito bom humor (com divertida tirada até para quem escreve crítica de teatro!), além de um compartilhamento sensível de aprendizados e o entrosamento perfeito entre marionetistas e suas personagens, “Pedro e o Lobo” vira encanto para durar ainda muito tempo. A direção desta remontagem é de Ulisses Tavares e Bia Apocalypse. É não parar, Giramundo.

 

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