*Da Redação Dia a Dia Notícia
Com o ativismo socioambiental em defesa da floresta viva e pela garantia dos direitos das populações tradicionais pulsando em suas veias, a líder extrativista Letícia Moraes escreve mais um importante capítulo de sua trajetória de luta ao participar da discussão sobre a emergência climática na 28ª edição da Conferência das Nações sobre Mudanças Climáticas (COP28), que acontece em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos.
A vice-presidente do Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS) foi uma das palestrantes do painel “Protagonismo Indígena e de Comunidades Locais no Enfrentamento à Crise Climática”, realizado, nesta terça-feira (5), no Pavilhão do Brasil, na COP28. O painel destacou como esses grupos têm sido fundamentais na conservação do meio ambiente, na promoção da sustentabilidade e na defesa dos direitos territoriais tradicionais.
Moradora do projeto de assentamento agroextrativista PAE Ilha São João, Comunidade Boa Esperança, no município de Curralinho, no Marajó (PA), Letícia se emocionou ao discursar sobre a importância de estar presente em um evento de alcance mundial como a COP28 e de servir como canal para reverberar a voz de milhares de jovens e mulheres da floresta.
“É uma emoção estar participando de uma COP, algo que a gente só ouviu falar ou leu histórias a respeito, mas principalmente de estar aqui para dizer que os nossos corpos também estão presentes nessa luta e que precisamos ser ouvidos, visibilizados e, sobretudo, ter as nossas histórias respeitadas”, afirmou Letícia.
Instrumento de luta coletiva
Nascida em uma família de nove irmãos, Letícia desde muito cedo ouviu que precisava sair de seu território para ser alguém na vida. Isso sempre a incomodou. Aos 14 anos partiu em busca dos estudos e após 10 anos fora da sua comunidade, voltou com a graduação, o mestrado e o início do doutorado.
Com uma bagagem cheia de conhecimento, a líder extrativista hoje luta para que a juventude e as mulheres da floresta não precisem abandonar seus territórios. “Se olhar por debaixo das florestas tem gente, são pessoas que gritam com todas as suas forças que querem permanecer nos seus locais”, declarou a vice-presidente do CNS.
“Hoje, quando paro para pensar no fato das pessoas considerarem que eu não sou ninguém dentro do território, isso também é uma forma de violação dos nossos direitos, da nossa diversidade social e cultural”, destaca. “Tive acesso à educação escolar não por uma oportunidade, mas porque foi uma resistência minha em acessar esses espaços acadêmicos”.
Ela faz questão de lembrar que sua história é de resistência, mas que serve como instrumento de luta coletiva. “É preciso buscar melhorias na qualidade de vida dos povos da floresta, com acesso à educação, saúde, comunicação, moradia digna e, sobretudo, o protagonismo que merecemos por sermos os verdadeiros guardiões dos nossos territórios”, afirma a líder extrativista.
A vice-presidente do CNS destaca que levar essas políticas públicas para dentro dos territórios tem sido uma missão desafiadora, principalmente a partir da luta por uma questão primordial que proporciona outros direitos e garantias: a regularização fundiária e ambiental desses espaços.
“Precisamos pensar não como donos desse lugar que não nos pertence, mas como seres que estão aqui de passagem, com a responsabilidade de pensar em algo maior. A aliança que os povos da floresta realizou no passado precisa ser renovada e ampliada”, afirmou Letícia Moraes.
Além de Letícia, compõem a comitiva do CNS na COP28, o presidente do Conselho, Júlio Barbosa; o Secretário de Formação e Comunicação, Joaquim Belo; e o Tesoureiro, José Ivanildo.
Ainda nesta terça-feira, em Dubai, os membros do CNS participaram do lançamento da Cúpula dos Povos da COP30, que reúne centenas de organizações da sociedade civil para debater uma agenda socioambiental e climática do governo brasileiro e do restante do mundo.
Segundo Letícia, a cúpula fará ainda uma agenda de ações para destacar as lutas populares latinoamericanas para a COP30, que acontecerá em 2025, em Belém. Além do CNS, a cúpula é formada por mais de 50 organizações sociais. “Será uma grande coalização para pressionar, junto com a sociedade civil global, os líderes mundiais em relação à agenda climática.