*Alice Almeida – Dia a Dia On-line
A data 30 de julho marca o Dia de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas, com o intuito de mobilizar a população sobre o crime que movimenta cerca de 32 bilhões de dólares por ano, segundo a Organização Mundial de Trabalho (OMT). No Amazonas, pelo menos 61 denúncias de casos suspeitos de tráfico de pessoas foram feitas, no período de 2012 a 2020, para a Rede Um Grito pela Vida.
Dentre as denúncias recebidas pelo núcleo da Rede em Manaus, estão os crimes de exploração sexual (31), trabalho escravo (13), servidão doméstica (3), casamento servil (2), adoção irregular (4), desaparecimento (3), aliciamento nas redes sociais (3), cárcere privado (1) e tráfico de órgãos (1).
A Rede Um Grito pela Vida é uma organização da Congregação dos Religiosos do Brasil (CRB), e luta contra o tráfico de pessoas em 22 Estados e no Distrito Federal. Neste ano, a campanha foi realizada principalmente por meio das redes sociais (fb.com/redeumgritopelavida), por conta da pandemia da Covid-19.
“O tráfico de pessoas é uma grave violação dos direitos humanos, atinge anualmente mais de 20 milhões de pessoas no mundo. É um crime muito lucrativo. Infelizmente 75% das pessoas traficadas no mundo são meninas e mulheres, e acontece para fins de exploração sexual”, explica a irmã Roselei Bertoldo, do Imaculado Coração de Maria.
No Amazonas, 39 das denuncias recolhidas pela Grito pela Vida envolviam exclusivamente o sexo feminino, 13 o sexo masculino, e 2 pessoas transexuais (gênero não especificado).
Houve ainda a denúncia de 3 famílias que foram submetidas a trabalho escravo, incluindo uma família de venezuelanos. Além disso, 5 venezuelanos, 1 peruano e 2 brasileiros foram vítimas de trabalho escravo, de acordo com as denúncias.
A irmã ressalta que o tráfico de pessoas é um crime invisibilizado na sociedade, e que pode surgir de diferentes formas:
“Ofertas de emprego, viagens com promessas de trabalho, muitas vezes de ser modelo, enfim, ganhar muito dinheiro. Acontece também quando as mulheres e meninas são vítimas de violência familiar. E hoje tem acontecido muito aliciamento via mídias sociais, e muitas mulheres também migrantes tem sido apanhadas nas redes dos traficantes”, afirma.
Em 2016, na véspera do Dia de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas, a Polícia Federal no Amazonas prendeu uma organização criminosa que fazia anúncios para atrair dançarinos para a Coreia do Sul, mas na verdade tinha como objetivo a exploração sexual dos jovens.
Na novela Salve Jorge, a protagonista é uma das vítimas de tráfico de pessoas para exploração e trabalho escravo.
O nome da empresa era Brazil Amazon Show & Productions, que prometia pagar passagens aéreas, visto, alimentação, moradia e um salário de R$ 3 mil. A própria Polícia Federal era apresentada como validadora dos contratos de trabalho. Cinco mandados de prisão foram cumpridos.
Denúncia do tráfico de pessoas
Um dos desafios para enfrentar o tráfico de pessoas é exatamente o número de denúncias relativas ao tema. Em 2019, o Disque 100, que recebe denúncias de violações de direitos humanos em todo o País, registrou apenas 61 denúncias de casos desse tipo em todo o Brasil.
O Ligue 180, canal específico para mulheres em situação de violência, registrou apenas 38 denúncias relacionadas ao tráfico de pessoas no ano passado. A quantidade de denúncias não significa a baixa ocorrência do crime, mas sim, a necessidade de conscientização sobre os canais de acolhimento e quanto a violação dos direitos humanos.
Qualquer indivíduo que foi ou é vítima de algum tipo de tráfico de pessoas, ou conhece alguém que tenha sido aliciado, pode denunciar por meio do Disque 100 ou do Ligue 180, no caso de mulheres. Os serviços funcionam 24 horas por dia, incluindo sábados, domingos e feriados, e possuem atendimento em português, inglês e espanhol.