*Da Redação Dia a Dia Notícia
Neste dia 29 de agosto é celebrado o Dia Nacional de Combate ao Fumo, com o objetivo de alertar a população sobre os danos à saúde, ambientais e sociais causados pelo tabaco. Segundo o pneumologista Ricardo Meirelles, coordenador da Comissão de Combate ao Tabagismo da Associação Médica Brasileira (AMB), uma grande ameaça à saúde da população hoje são os Dispositivos Eletrônicos para Fumar (DEFs), também conhecidos como cigarros eletrônicos, que podem conter cerca de 2.000 substâncias em seus aerossóis muitas delas tóxicas e cancerígenas.
O especialista ressalta também que a grande maioria dos cigarros eletrônicos contém grandes concentrações de nicotina, droga psicoativa que causa intensa dependência em seus usuários. O uso dos DEFs por não fumantes, principalmente adolescentes e jovens, aumenta em duas a três vezes o risco de migrarem para o consumo de cigarros, outros produtos convencionais do tabaco ou de fazerem uso simultâneo de ambos os produtos, o que aumenta muito o risco das doenças tabaco-relacionadas, já bastante conhecidas.
“É muito importante também adotarmos medidas de prevenção, como a realização de campanhas educativas, em especial para jovens e adolescentes, a inserção de informações sobre os riscos dos DEFs no site da Anvisa e na grade curricular das escolas, assim como a melhoria na fiscalização em ambiente digital, fronteiras e pontos de venda”, conclui Meirelles.
Além disso, as entidades exigem no documento medidas mais rigorosas para fiscalização e punição de violadores desta resolução, ressaltando a preocupação com o aumento do uso desenfreado desses dispositivos, em especial entre os jovens.
O que são os Dispositivos Eletrônicos para Fumar?
Os cigarros eletrônicos são conhecidos no Brasil pelo termo Dispositivos Eletrônicos para Fumar (DEFs). São chamados também de “vapes”, e-cigarros, e-cigs, e-cigarettes ou “pen drive”. Os DEFs são uma ameaça à saúde pública, porque representam uma combinação de riscos: os já conhecidos efeitos danosos à saúde e o aumento progressivo do seu uso no país. Em especial, esses dispositivos atraem pessoas que nunca fumaram, persuadidas pelos aromas agradáveis, sabores variados, inovação tecnológica e estigmas de liberdade.
Em maio, a AMB, em conjunto com mais de 40 entidades, lançou um manifesto, posicionando-se contra a liberação da comercialização, importação e propagandas de quaisquer dispositivos eletrônicos para fumar. Em julho, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária manteve a proibição da venda de cigarros eletrônicos no Brasil.
De acordo com dados divulgados no manifesto (clique aqui e confira na íntegra), os cigarros eletrônicos contêm nicotina e dezenas de substâncias químicas, incluindo cancerígenos comprovados para pulmão, bexiga, esôfago e estômago. Apresentam, ainda, o risco de explosões do aparelho e intoxicação.
Infelizmente, a nicotina persiste como uma das drogas mais utilizadas no mundo e o tabagismo, que matou mais de 100 milhões de pessoas no século XX, poderá matar um bilhão no século XXI, com grande participação dos DEFs.
De forma sorrateira, a indústria do tabaco lançou esses produtos no mercado usando duas estratégias principais: o discurso de redução de danos em relação ao tabagismo convencional e como opção de tratamento para cessação dos cigarros combustíveis.
Outra jogada foi propalar que os produtos não contêm monóxido de carbono (fato já rebatido em estudo) e, assim, tentar normalizar novamente o seu uso, inclusive em ambientes fechados.
Apresentados como “saudáveis”, os DEFs seriam a “solução tecnológica” para o anseio de uma importante fração de tabagistas: a ideias de poder fumar sem culpa, já que o produto “se trataria apenas de vapor de água” e não conteria substâncias tóxicas e perigosas.
Entretanto, não é essa a realidade sobre esses dispositivos. Estudos científicos mostram que o uso dos DEFs, tanto agudo como crônico, está diretamente ligado ao surgimento de várias doenças respiratórias, cardiovasculares e até câncer, além de causar dependência e estimular o uso dos cigarros convencionais.
Em contrapartida, o conhecimento sobre esses malefícios ainda é pouco difundido entre seus usuários. A EVALI, sigla em inglês para lesão pulmonar induzida pelo cigarro eletrônico, é uma doença pulmonar relacionada ao uso dos DEFs, descrita pela primeira vez no ano de 2019, nos Estados Unidos. Essa lesão pulmonar foi atribuída, inicialmente, a alguns solventes e aditivos utilizados nesses dispositivos, provocando um tipo de reação inflamatória no órgão, podendo causar fibrose pulmonar, pneumonia e chegar à insuficiência respiratória.
Até janeiro de 2020, o CDC, nos Estados Unidos, registrou 2.711 casos de EVALI hospitalizados e até fevereiro do mesmo ano 68 mortes foram confirmadas. A faixa etária média era de 24 anos, 66% dos acometidos pertenciam ao sexo masculino e o tempo médio de utilização foi de 12 meses.