*Cristie Sicsú – Especial para o Dia a Dia Notícia
Após registrar uma cheia histórica em 2021, afetando mais de 455 mil pessoas na capital, a cidade de Manaus enfrenta, mais uma vez, a cheia do Rio Negro. O nível da água chegou a 29,37 metros nesta segunda-feira (23), de acordo com os dados do Porto de Manaus.
Segundo informações do Sistema Integrado de Informações sobre Desastres, onde a Defesa Civil do Amazonas faz parte, 229.603 pessoas e 57.401 famílias no interior já foram afetadas pela cheia. Na capital, algumas casas da região do centro já estão sendo comprometidas.
Com a água invadindo casas à margem dos igarapés, a população local fica em situação de extrema vulnerabilidade. O alagamento significa vulnerabilidade, perda de bens e doenças. Ao andar pelas pontes quilométricas, construídas com madeira para possibilitar o deslocamento das pessoas, o cheiro da água contaminada invade o nariz e não é difícil avistar os ratos andando pelo lixo que flutua ao redor das casas.
A Defesa Civil já antecipou ações de prevenção como construções de pontes e suprimentos para até 4 mil pessoas que podem ser atingidos pelas inundações, conforme levantamento do Governo do Amazonas.
Convívio com a cheia
Tem quase um mês que a água do Rio Negro entrou na casa do vidraceiro Otto Carlos, 38, e também na casa dos seus vizinhos, trazendo sujeira, além da destruição de móveis e doenças. Carlos mora no bairro Educandos, zona Sul da cidade e sua casa de palafitas, localizada às margens do rio, está em alerta para alagação.
“Antigamente não enchia tanto como tá enchendo hoje em dia, não chegava a alagar as casas aqui, então tá com uns quinze anos, ou mais, que a gente tá tendo esse problema de cheia. É terrível, porque a gente tem famílias sem condições, pois é um gasto muito grande para fazer quando seu lar está debaixo d’água e você perde móveis, como um guarda-roupa, geladeira, fogão”, disse em entrevista ao Dia a Dia Notícia.
Já o pescador Sebastião Rodrigues, 69, que vive junto com sua filha no Educandos, próximo ao rio, ao ser questionado sobre a situação, depõe sobre a difícil situação de reformar e mudar os móveis de lugar, e ainda ter que conviver com os resíduos jogados no rio, que acabam chegando até a sua casa.
“A família trabalha o ano todo para comprar madeiras caríssimas para fazer outro assoalho e poder andar em casa, e a cheia vem quebrando tudo, além de trazer um lixo medonho. Eu sou aposentado por invalidez, sou cardiopata e não posso trabalhar, mas preciso me manter juntamente com a minha filha, nós só esperamos uma moradia digna”, comentou Sebastião.
De acordo com o Serviço Geológico do Brasil (CPRM), a metragem pode chegar a atingir a marca de 29,8 a 30,01 metros devido às chuvas intensas até o fim de maio.