Os recentes casos do novo coronavírus confirmados na China e na Nova Zelândia, após períodos consideráveis sem registros da doença, mostram que não há como se livrar do vírus e alimentam a tendência de que a covid-19 se tornará endêmica. No caso do país asiático, foram identificados 27 novos casos ontem em Pequim, e mais de uma centena de contaminados na capital desde o último dia 12.
A endemia se caracteriza quando o vírus não se dissipa totalmente, e a doença acaba se manifestando com frequência em determinadas regiões, geralmente provocada por circunstâncias ou causas locais. Os tipos de influenza A e B, por exemplo, são considerados endêmicos no Brasil. A OMS já informou que há probabilidades consistentes de que o novo coronavírus entre nesse rol.
Com mais de 21 milhões de habitantes, Pequim iniciou uma operação que envolve cerca de 100 mil trabalhadores que devem destrinchar as mais de sete mil comunidades residenciais e vilarejos da cidade. Xu Ying, funcionário do comitê municipal do Partido Comunista da China em Pequim, chamou a operação de “batalha contra a doença” em entrevista coletiva.
A China amenizou a chamada transmissão comunitária há cerca de dois meses, mas os novos casos fomentaram a preocupação das autoridades de saúde do país.
Com mais de 21 milhões de habitantes, Pequim iniciou uma operação que envolve cerca de 100 mil trabalhadores que devem destrinchar as mais de sete mil comunidades residenciais e vilarejos da cidade. Xu Ying, funcionário do comitê municipal do Partido Comunista da China em Pequim, chamou a operação de “batalha contra a doença” em entrevista coletiva.
“O risco de propagação da epidemia é muito alto, por isso devemos tomar medidas resolutas e decisivas”, disse Xu Hejian, porta-voz do governo da cidade de Pequim, conforme publicado pela mídia estatal. No domingo, Hejian disse que Pequim entrou em “um período extraordinário”.
Os moradores de áreas consideradas com alto risco de contágio foram proibidos de deixar a cidade. Quem já deixou o local deve se explicar às autoridades “o mais rápido possível”. Mais de 20 “zonas residenciais” foram fechadas, e 90 mil testes serão feitos nos moradores destas regiões.
O termo refere-se a conglomerados de edifícios, por vezes com poucas entradas, o que, em tese, podem facilitar medidas de restrição e isolamento. Outros 11 bairros já haviam sido fechados e estavam sob confinamento.
Ônibus, metrôs e trens de toda a capital terão passageiros limitados; algumas escolas da capital foram fechadas.
“A cepa deste vírus [encontrado em Pequim] indica claramente que é diferente da que foi encontrada aqui dois meses atrás. Ele veio de fora da China”, diz Wu Zunyou, epidemiologista chefe do Centro Chinês de Controle e Prevenção de Doenças, afirmando ainda que o vírus encontrado na capital chinesa é similar ao que circula na Europa e nos Estados Unidos.
“A OMS está trabalhando muito de perto com as autoridades chinesas para entender quais são exatamente os riscos [da nova onda de contágio], e qualquer orientação internacional será feita em conformidade [com a China]”, disse o diretor executivo do Programa de Emergências em Saúde da OMS (Organização Mundial da Saúde), Michael Ryan, em entrevista coletiva transmitida na última segunda-feira (15).
A organização informou ainda que vários epidemiologistas têm trabalhado com os chineses no escritório da OMS em Pequim, citando cooperação com o Centro Chinês de Controle e Prevenção de Doenças.
“Precisamos entender o que realmente aconteceu e as circunstâncias antes de elaborar políticas importantes sobre isso Michael Ryan”, diretor executivo do Programa de Emergências em Saúde da OMS.
Nova Zelândia tem casos importados
Considerada como exemplo nas políticas públicas que suprimiram a pandemia, a Nova Zelândia passa por situação semelhante à chinesa, embora em menor escala.
Dois casos foram confirmados nesta semana, e as autoridades entraram em alerta após 25 dias sem detectar novas infecções do coronavírus. Os dois casos, duas mulheres entre 30 e 49 anos da mesma família, conseguiram uma permissão para viajar do Reino Unido e comparecer ao funeral de um parente na Nova Zelândia.
Havia um planejamento rigoroso para atender o que o governo local chama de “isenções por compaixão”, e que foi seguido à risca pelas pacientes. Agora, no entanto, o ministério da Saúde local vai rever essa política.
“Temos grande empatia pelas famílias que lidam com o luto, embora as notícias mostrem a importância da decisão recente de não conceder isenções para comparecer a funerais ou tangihanga [ritual funerário tradicional maori]”, afirmou em nota o ministro David Clark.
Com os dois casos, o país registra hoje 1.156 casos confirmados e 22 vítimas da covid-19. No momento, nenhum cidadão passa por tratamento no país por causa do vírus.
Mercado foi vetor de propagação na China
Na China, o mercado atacadista Xinfadi, responsável por 90% do abastecimento de frutas e vegetais de Pequim, pode ter sido o principal vetor de propagação da nova onda de contágio na capital chinesa. As autoridades chinesas afirmam que ao menos 34 dos novos casos registrados têm alguma relação com o mercado, que foi fechado. Os mais de 8 mil trabalhadores e revendedores que transitavam no local estão sob observação médica e serão testados.
O estado chinês vem entrevistando, pessoalmente, por ligações ou pelas redes sociais, mais de 200 mil pessoas que visitaram o local desde o dia 30 de maio. As 21 comunidades residenciais fechadas ficam próximas ao mercado.
A mídia estatal chinesa reportou que o mercado de frutos do mar Yuquandong, no distrito de Haidian, também foi fechado em virtude de casos confirmados que teriam ligação com o atacadista Xinfadi. A principal suspeita é que uma leva de salmão importado possa ter sido contaminada, já que traços do vírus foram encontrados em prateleiras que expunham o produto.
“O fato de ter acontecido no [mercado] Xinfadi, um grande atacadista, é um desafio em si mesmo no momento em que tentamos seguir com as investigações epidemiológicas”, disse Wu Zunyou ao jornal People’s Daily do Partido Comunista Chinês.