*Da Redação Dia a Dia Notícia
Morreu no sábado (08) o cientista Enéas Salati, que mostrou como água da chuva se recicla na Amazônia. As cinzas do professor Enéas Salati serão espalhadas na reserva florestal Adolpho Ducke, em Manaus. O cientista dos ‘rios voadores’. A cerimônia de cremação será realizada hoje (8), em Piracicaba, cumprindo seu desejo.
Conforme o portal Terra, o professor, cujo trabalho de uma vida ajudou a fortalecer a consciência ambiental no Brasil, mostrou como água da chuva se recicla na Amazônia. Ou seja, rios voadores, grandes massas de ar carregadas de umidade vindas da Região Amazônica para o Sudeste brasileiro.
Carreira
Formado em 1955, em Engenharia Agronômica, pela USP, Salati teve uma carreira exemplar. Membro do Fórum de Mudanças Climáticas, foi professor da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiróz (Esalq), por duas vezes diretor do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), diretor do Centro de Energia Nuclear na Agricultura da USP, diretor técnico da Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável. Foi também assessor do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), em Washington, consultor do Banco Mundial e da International Finance Corporation (IFC).
Foi dele o estudo seminal, no fim dos anos 1970, que mediu o nível de reciclagem das moléculas de água na Amazônia, um ciclo tão gigantesco que faz com que essas moléculas – vindas do oceano e precipitadas sobre a floresta – sejam evaporadas e voltem em forma de chuvas na região entre 5 a 8 vezes. Quando, finalmente, essa enorme massa de ar se desloca no sentido dos Andes, migra para o Sudeste formando os “rios voadores”, fenômeno tão concreto que basta ler as notícias sobre as tempestades que afetam o país durante o verão.
Em setembro de 1978, em artigo publicado no Estadão, o professor explicava como o desmatamento iria influenciar negativamente o ciclo hidrológico na floresta. Era, então, o fim da primeira década em que a Amazônia experimentava a ação humana destrutiva de forma mais sistemática. A abertura da Transamazônica e a tentativa da ditadura militar de fixar migrantes na região escancaravam a mata para a exploração.
“O grande legado dele foi ter criado uma consciência ambiental nas pessoas que trabalharam com ele de que estamos num planeta finito”, diz Reynaldo Victoria, professor do Cena, ex-orientando de Salati. Quando o antigo mestre foi para o Inpa, levou o ex-aluno para trabalhar ao seu lado. “Para mim, ele foi um segundo pai, com uma paciência infinita.”
Essa foi uma das características de Salati. Sua carreira se cruzou com a de outros importantes cientistas brasileiros e estrangeiros. Carlos Nobre, climatologista do Instituto de Estudos Avançados da USP, lembra que seu primeiro trabalho no Inpa, em 1975, foi ao lado de Salati. “Foi a primeira pessoa a me dar uma atividade lá. Ele foi o primeiro a medir as diferenças de temperatura no Rio Negro. Eu estava no barco com ele”, diz Nobre. “Foi dele também a ideia de construir uma torre no meio da Amazônia para medições climáticas.”
Em nota, o INPA lamentou a morte do cientista.
Comunicamos o falecimento do ex-diretor do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI), Dr. Enéas Salati, de 88 anos, no último sábado (05), em Piracicaba (SP). Salati fez Engenharia Agronômica (1955) e doutorado em Agronomia (1958). Atuou em importantes pesquisas e instituições, além da formação de diversos alunos na área de biogeoquímica isotópica e reconhecido por seus estudos que já consideravam a Floresta Amazônica um componente essencial em todos os ciclos biogeoquímicos regionais. Dr Salati foi diretor do Inpa em duas ocasiões: de 1979 a 1981 e 1990 a 1991. Em 2020, em plena pandemia da Covid-19, participou de forma virtual da nossa campanha de aniversário do Instituto.