*Lucas dos Santos – Da Redação Dia a Dia Notícia
O número de filiados a partidos considerados de direita no Amazonas mais que dobrou nos últimos dez anos. O Republicanos, chamado até 2019 de Partido Republicano Brasileiro (PRB), foi o que teve o maior destaque. Em 2011, a legenda possuía 2.510 filiados no Amazonas, ficando na vigésima-terceira posição entre 29 partidos. Dez anos depois, o partido é o segundo maior do estado com 21.433 filiados, atrás somente do Partido dos Trabalhadores (PT) e superando partidos que tradicionalmente ocupavam as primeiras posições como o Partido Comunista do Brasil (PCdoB) e Movimento Democrático Brasileiro (MDB).
Em 2011, o Amazonas possuía filiados em 29 dos 30 partidos existentes na época. Dos dez maiores partidos em número de filiados no estado, quatro eram de esquerda, cinco de centro e somente um de direita. Na época, a então presidente da República Dilma Rousseff ainda colhia os louros do governo Lula, que saíra com alta aprovação e uma economia crescente. Do primeiro ao último lugar:
- Partido Comunista do Brasil (PCdoB)
- Partido dos Trabalhadores (PT)
- Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB)
- Partido Progressista (PP)
- Partido Trabalhista Brasileiro (PTB)
- Democratas (DEM)
- Partido da República (PR)
- Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB)
- Partido Democrático Trabalhista (PDT)
- Partido Popular Socialista (PPS)
Apesar de a esquerda ter possuído a maioria dos filiados durante bastante tempo, ela nunca governou o estado ou grandes municípios. Segundo o cientista político e advogado Helso Filho, o Amazonas sempre foi governado por “partidos de centro, às vezes gravitando para a centro-direita com uma questão social”. O maior diferencial entre esquerda e direita no Amazonas está no âmbito da economia.
“Direita e esquerda é uma ligação econômica. A esquerda querendo um Estado pesado, dominando várias ações, e a direita querendo o liberalismo, quanto menos estado melhor”, afirma Helso.
Contudo, o centro político foi o maior prejudicado na última década no Amazonas com a ascensão da direita. O antipetismo provocado por escândalos de corrupção, a crise econômica e política iniciada entre 2013 e 2014 que gerou a polarização política do país, haja vista a apertada eleição entre Dilma e Aécio Neves, a guinada conservadora a nível federal, o impeachment da presidente Dilma Rousseff em 2016 e a desconfiança da população com a política deu oportunidade para figuras como o ainda deputado Jair Bolsonaro se colocar como o diferencial e chegar à presidência da República em 2018.
Com isso, as últimas eleições aumentaram a representatividade da direita em todas as esferas, desde a municipal até a federal. O movimento antipolítico levou muitos partidos a mudarem de nome, buscando resgatar a confiança do eleitor, além de muitos mudarem seus programas partidários, incorporarem partidos que não atingiram a cláusula de barreira e saírem de um ponto ao outro no espectro político. O resultado é que no Amazonas, em 2021, 32 dos 33 atuais partidos possuem representação no estado e dos dez maiores partidos em número de filiados, dois são de esquerda, dois de centro e oito de direita:
- Partido dos Trabalhadores (PT)
- Republicanos
- Partido Comunista do Brasil (PCdoB)
- Partido Social Cristão (PSC)
- Movimento Democrático Brasileiro (MDB)
- Progressistas (PP)
- Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB)
- Podemos
- Partido Liberal (PL)
- Democratas (DEM)
Essa reconfiguração refletiu no número de filiados a partidos no Amazonas. De 2011 a 2021, partidos de esquerda passaram de 60.404 filiados para 72.315. Os partidos de centro tiveram uma queda, passando de 70.859 para 51.193. Já a direita estourou no Amazonas, indo de míseros 37.798 para 131.932, representando um crescimento de 249% em uma década.
Contudo, o número de filiados a partidos não necessariamente representa o pensamento da população. Quando o PCdoB era o que mais possuía filiados, a população amazonense não se identificava, em sua maioria, com a esquerda política. Helso Filho destaca que a maioria da população não se importa se o político é de esquerda ou de direita, mas com outros fatores que influenciam a vida cotidiana como salários e segurança pública, ponto de preocupação de todas “as classes sociais, a mais pobre e a mais abastada”.
Nem sempre é por ideologia
Apesar de muitos políticos estarem filiados a partidos ditos de direita, boa parte dessas legendas integra o bloco conhecido como Centrão. Helso Filho afirma que esse grupo surge “pouco após a volta do pluripartidarismo no Brasil”, nos anos finais da ditadura militar.
“Eu diria que são caracteristicamente políticos fisiológicos. Onde estiver uma onda boa, eles estão. O Centrão fez parte do governo Sarney, posteriormente fez parte do governo Collor. Collor foi defenestrado, entrou Itamar e o Centrão estava lá. Itamar governa dois anos e elege Fernando Henrique Cardoso já com o Centrão ao lado dele por oito anos. Posteriormente é eleito Lula, ficando oito anos com o Centrão ao lado dele também. Dilma ficou seis anos com o Centrão ao lado dela, posteriormente veio Temer também governando com o Centrão e agora o presidente Bolsonaro, que falou que não queria acordos fisiológicos, está mergulhado com os partidos do Centrão”, destaca Helso.
O cientista diz que os políticos filiados a esses partidos podem ser liberais, conservadores, ser a favor de estado grande ou mínimo, mas são “acima de tudo, fisiológicos. Estão lá para ocupar espaço de cargos do primeiro, segundo e terceiro escalão”.